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Os bons morrem jovens

  • academiaresilienci
  • 20 de ago. de 2024
  • 2 min de leitura

Ontem, soube que um vizinho, grande figura, morreu, no auge de seus 98 anos, e comentei com meu sogro: é, os bons morrem jovens.


Com seus 95 anos, ele só me respondeu que sua hora estava próxima e que envelhecer era isso. Bem, disse a ele, mas se tudo der certo, a gente envelhece. E se tudo der errado, morremos cedo, porém velhos.


Sei que isso soa estranho, mas estranho é pra soar. Porque o jovem vizinho de 98 anos morreu jovem.


Mas não faz muito, soube da morte de um velho de 22 anos.


No auge de seu vigor físico, reclamava de tudo, não valorizava coisas simples, culpava os outros por suas mazelas, não queria tentar, só conseguir. Perder então? Só de ouvir falar já chorava. Não tinha curiosidade, aprender só se fosse para facilitar sua preguiça. Não podia se frustrar porque podia não aguentar. Não tinha brilho no olhar, não questionava, nem se interessava por poemas e histórias aquelas que te fazem pensar no sentido da vida.


Tinha medo de ser ridículo, não queria nem tentar. Não queria ajudar, só queria receber. Tinha uma coleção de coisas que não lhe davam prazer.


Por fim, perdeu sua mente para a velhice e mais nada dele sobrou que não fosse finalizar, acabar, terminar, findar a caminhada neste mundo. Vestir o paletó de madeira, abraçar o chão por baixo, virar comida de vermes, ao pó retornar.


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Mas 98 anos de juventude é outra coisa. A vida era aventura, o olhar brilhava, a curiosidade em cada gesto. As coisas simples por si só já lhe traziam gargalhadas, uma manhã inteira rindo de um gato que se assustou com um pepino! Ouvia música e cantarolava para seu amor, como se todo dia fosse seu aniversário de casamento. Comia bem, mas não exagerava.


Até tinha dores, ficava doente às vezes, e dizia que era assim porque é da matriz humana entender o que é dor, para à saúde, dar valor. Amava viajar. E assim, entendia quão calorosa era sua simples moradia. Admirava o mar, olhando as ondas, entendia o que era filosofar.


Passou dificuldades, sim, e muitas. Algumas difíceis, perdas, crises. Mas não via nelas pesar, via um aprender. Se não fossem os momentos difíceis, não teria histórias para contar e não entenderia o que de valor a vida tinha, para apreciar.


Viveu como um eterno jovem, cada dia era novo, um deslumbramento do mundo, algo a mais a aprender e ensinar. E sua verdadeira felicidade era no compartilhar.


Mesmo com 100, 120, 150, alguém assim jamais morreria velho. E então, bem no dia de morrer, ele, jovem há tanto tempo, vislumbrou sua vida. Ainda tinha tanto a aprender. Mas, por fim, não teve medo de para outra aventura, navegar.


Virar pó de estrela, ir para o além, o infinito cruzar.


Afinal, viver sem amar viver, não é viver. É comer capim pela raiz.

 
 
 

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