O que é ser feliz

Quantos caminhos somos capazes de percorrer até finalmente nos abandonar? Isso! Abrir mão de quem somos, esse umbigo gigante que a tudo quer e a tudo come? E simplesmente ser. Ser feliz.

Mas ser verdadeiramente feliz.

Certo caminho, viajei por um longo trecho e decidi parar em uma cidadezinha bem pequena. Passeei pelas vielas, e encontrei um monge, sentado em uma praça. Na frente dele tinha uma tigela e, logo do lado tinha um gatinho, dormindo a sono solto. Um cartazinho, colocado logo atrás do gato, dizia para fazer uma pergunta ao monge, que ele responderia em troca de qualquer moeda.

Sorri, encantada. Joguei uma moeda em sua tigela e me sentei, com a pergunta já pronta em minha mente: monge, como uma pessoa pode ser feliz?

Ele me olhou, longamente e começou a recitar:

Que você seja feliz

Que você se liberte do sofrimento pela sabedoria

Que você encontre as causas verdadeiras da felicidade

Que você supere as causas do sofrimento

Que você se liberte de todo karma

Que você manifeste lucidez

Que você seja verdadeiramente capaz de ajudar a todos os seres

E que encontre nisto a fonte de alegria e energia.

Ele terminou a récita e fez uma reverência. Então, percebi que tinha terminado.

- Isso é tudo? - perguntei, estreitando os olhos.

O monge olhou para sua tigela. Ora, se eu quisesse que ele respondesse a outra pergunta, devia lhe dar outra moeda. Olhei para a tigela e, contrafeita, joguei outra moeda. Então, o monge me olhou mais uma vez e repetiu:

Que você seja feliz

Que você se liberte do sofrimento pela sabedoria

Que você encontre as causas verdadeiras da felicidade

Que você supere as causas do sofrimento

Que você se liberte de todo karma

Que você manifeste lucidez

Que você seja verdadeiramente capaz de ajudar a todos os seres

E que encontre nisto a fonte de alegria e energia.

- Mas, monge! Eu não estou pedindo uma oração pra mim, eu quero saber como uma pessoa pode ser feliz!

O monge, outra vez, olhou para sua tigela e eu, já impaciente e meio com raiva, atirei outra moeda. O monge me olhou, mais uma vez e como se fosse para alimentar minha raiva, ele teve a audácia de repetir mais uma vez:

Que você seja feliz

Que você se liberte do sofrimento pela sabedoria

Que você encontre as causas verdadeiras da felicidade

Que você supere as causas do sofrimento

Que você se liberte de todo karma

Que você manifeste lucidez

Que você seja verdadeiramente capaz de ajudar a todos os seres

E que encontre nisto a fonte de alegria e energia.

Já fulana da vida, me levantei, decidida a ir embora, só que, bem nesse momento, o gatinho que estivera dormindo tranquilamente na frente do cartaz, se despertou, deu um bocejo preguiçoso e se levantou, indo ronronar em volta do monge sentado.

Só então, vi que uma parte do pequeno cartaz tinha estado encoberta pelo gatinho dorminhoco. E era bem a parte que dizia: deixe sua contribuição para alimentar as crianças do templo.

Então, olhei para o monge. Ele simplesmente acariciava o gatinho. Me senti ridícula e envergonhada. Tirei todo o dinheiro da minha carteira, botei na tigela, e sentei-me para ouvir o que ele já tinha me dito.

- Monge, como uma pessoa pode ser feliz? - repeti, derrotada.

O monge olhou para mim, pacientemente.

Que você seja feliz

Que você se liberte do sofrimento pela sabedoria

Que você encontre as causas verdadeiras da felicidade

Que você supere as causas do sofrimento

Que você se liberte de todo karma

Que você manifeste lucidez

Que você seja verdadeiramente capaz de ajudar a todos os seres

E que encontre nisto a fonte de alegria e energia.