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A morte não sussurra

  • academiaresilienci
  • 16 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Gato é um bicho engraçado. Dorme o tempo todo, mas quando você vê sobe no muro, desce o telhado, se camufla em meio ao mato. Escala uma árvore e entra em casa correndo para deitar nos chinelos de minha mãe. Gato é um paradoxo de sossego e agilidade. Um bicho que parece viver em prática zen. Um monge, por natureza.


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Um desses pequenos monges, esse, é branco e amarelo e seu nome é Bill. Binho, para minha mãe. Nunca chegamos num acordo e ele virou um gato de dois nomes. Bill, Binho.


Bill...


Uma vida em um suspiro. E Bill se foi. De repente, sem deixar aviso, foi ficando desanimado, sumiu por dois dias, quando voltou, já estava indo embora. Miou uma última vez, reclamando das mãos do veterinário. Suspirou e partiu.


Em seu enterro, repeti os dizeres da minha tradição. Todo bicho que se vai, vai para a Grande matilha de Hécate. Ela guia, ela guarda, sempre em bando, seguindo o fluxo da vida. Ela é a própria vida, fluindo após o último suspiro.


No silêncio da noite, ouço a voz da Grande Matilha na entonação do crepúsculo, a última cerimônia do zen, antes de anoitecer:  


Vida e morte são de suprema importância

Tempo rapidamente se esvai, oportunidades se perdem.

Noite e dia, não perca tempo.

Não deixe sua vida passar em vão.

 

Gatos são monges e vidas são suspiros. Já a morte... a morte é conselheira. Está ao seu lado, na sua frente, atrás de você, um susto, por um triz... quando aparece, ela berra contigo, bate na mesa, plena de pulmões:


O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO COM A SUA VIDA?


A morte nunca sussurra.

 
 
 

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